sexta-feira, 14 de setembro de 2007

UPS

“Era a terceira vez que tal coisa acontecia.
Ele não era o primeiro e nem haveria de ser o último.
Vagueava livremente, num sítio desconhecido.
Envolvido num tecido anónimo exercia movimentos rítmicos sabendo claramente da direcção que era forçado a seguir.
No meio de tantos medos e de tantas alterações emocionais a certeza do seu destino, heroicamente, fizera com que continuasse a sua missão.
De uma forma instantânea começara a sentir se aspirado por algo desconhecido,
algo que não reconhecera e que, convictamente, lhe negava agora, o seu próprio movimento.
Consciente da traição da qual tinha sido vítima, uma enorme frustração se apoderava do seu tão lúcido sentido de orientação. Não sabia onde se encontrava, nem o que fazer, até que um intrínseco cheiro a competição dominava e apoderava se do seu ar.
O barulho era ensurdecedor, e o seu medo aumentava com a sua aproximação e com a ausência de uma presença física que o pudesse explicar.
Era uma multidão que se aproximara, uma multidão já anteriormente analisada, mas que pelos seus velozes comportamentos não deixava de lhe ser estranha:
- Todos transportavam o seu próprio oxigénio,
- Todos faziam uma força assustadora para ir ter com ele,
- Todos eram capazes de matar para que fossem o primeiro.

Ele, liderado pela sua mesquinhice habitual decidira impor se de maneira a que todos se sentissem atraídos por ele.
Incapazes e fragilizados pelo poder da sua atracção, muitos ficaram pelo caminho possibilitando uma maior oportunidade a todos os que, não apoderados pelo cansaço, conseguiam continuar.
De repente, toda esta, já reduzida multidão, se apercebera de que teriam que se unir para que todo aquele processo acabasse e para que não se vissem forçados a desistir.


Após um árduo trabalho, apenas um espermatozóide conseguira penetrar o óvulo”


- Merda!
Fale me então do aborto, poupe detalhes por favor.

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